Não deveríamos limitar a interpretação de uma música à nossa própria técnica, assim com não deveríamos limitar a interpretação de um estilo musical à nossa personalidade.
Se você não sabe fazer bem notas ligadas em cordas diferentes e a música está escrita assim, o que você faz: desliga as notas? Faz um dedilhado em que não seja necessário mudar de corda ou estuda a passagem com as tais notas ligadas em cordas diferentes até a dita sair?
E se você é tímido e não consegue “colocar para fora” aquela interpretação super-expressiva de uma peça romântica?
E se você é uma pessoa muito extrovertida e que se sente “presa” ao tocar uma peça clássica, por não conseguir tocá-la sem aqueele seu vibrato lindo, carregado de sentimentalismo e bem-acompanhado de arroubos românticos?
E se você se sente incapaz de tocar uma peça em que vem pedida uma dinâmica “forte”, porque se acha uma pessoa muito meiga? E se vem escrito “piano”, mas você não consegue parar de amassar o contrabaixo com a sua personalidade cheia de personalidade?
Bem, nem sempre uma dinâmica forte quer dizer uma interpretação agressiva, e nem sempre uma dinâmica em piano (suave) quer dizer uma interpretação doce, estamos combinados?
Pense agora no som que você pode não estar conseguindo tirar e, antes de ver a grama verde do seu vizinho contrabaixista, faça uma análise rápida e indolor de você mesmo. Você pode estar “transferindo” a sua personalidade para o contrabaixo.
Portanto, sempre podemos cair em nessas “armadilhas” pré-fixadas por nós mesmos, porém o estudo bem direcionado do instrumento e da Música tem como um dos seus objetivos a oportunidade de entender a Música e os seus estilos musicais para que tenhamos, a partir disso, liberdade para interpretá-los.
Nós sempre lutaremos contra as limitações de volume e de timbre do contrabaixo, que não tem os recursos de uma voz ou de um violino, mas essa é uma luta saudável, que faz o contrabaixista procurar uma forma de se aproximar do som dos seus sonhos, quer seja por admiração, quer seja por inveja.
Muitas vezes também seremos “obrigados” a tocar diferentemente da nossa personalidade, porque a música pedirá isso, e sempre seremos convidados a rever os nossos valores interpretativos, que podem mudar com o aumento do nosso conhecimento musical, com a compreensão da nossa personalidade, com a melhoria da nossa técnica contrabaixística e/ ou com o nosso amadurecimento pessoal e musical. Viva a diferença!
Com isso, quero fazê-lo ver que estudo, personalidade e interpretação são componentes ativos da vida de um músico e que dosá-los conscientemente é uma das formas mais gratificantes de se sentir músico.
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