Às vezes chego a pensar que, se tive outras vidas, acabei muitas delas no mar…
Respeito o mar o suficiente para observá-lo sempre de longe, nunca dentro dele, salvo em embarcações e, mesmo assim, sempre atenta à possibilidade de, num caso de acidente, ter que cair no mar e nadar rápido o suficiente para que ninguém num momento de desespero se grude a mim e acabe de vez com as chances de sobrevivência mútua. O mar sempre me passa melancolia por seu infinito…
Conheço gente que tem essa melancolia e essa espécie de angústia com o infinito do céu e o fim da humanidade, ou com a sensação de infinito dos trilhos de trem.
A sensação de “imagine um ponto no espaço” das aulas de matemática é potencializada em mim quando estou frente ao mar.
Adoro ver pinturas e fotos de mar, e até mesmo de um bom passeio à beira-mar, mas dentro dele não entro há mais de 30 anos. Mesmo em pinturas, sinto algo estranho. Lembro-me que estava num museu e ao ver pinturas entre 1750 e 1800 de ondas gigantes e maremotos, fiquei impressionada.
Ontem eu tava dando uma aula, e meu aluno estava fazendo um movimento exagerado com os dedos da mão esquerda. Ao invés de só abaixar e levantar os dedos, ele estava fazendo movimentos circulares, o que atrasava completamente a emissão das notas.
Na hora, fiz uma analogia com o mar: “você já reparou que quando alguém está se afogando, sempre levanta e abaixa a cabeça em movimentos circulares, ao invés de abaixar e levantar em linha “reta”, como fazemos nas aulas de natação, que nos proporciona ar mais imediato?” “Pois bem, você está se afogando no contrabaixo.”
Já andei de canoa em rio com jacaré e piranha, mas a sensação de desconforto acontece sempre em rios grandes e no mar.
O mar é um infinito que me incomoda e me dá medo…
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