Sabemos que nem todas as pessoas têm a chance de ver um elefante ao vivo, seja num zôo ou num safári, mas nós, contrabaixistas, convivemos com uma espécie de elefante todos os dias e ainda temos a chance de ouvi-lo, e tudo isso por opção. Resumindo: somos muuuito corajosos!
Já que teremos que carregar e tocar o elefantinho durante parte do dia e talvez por muitos anos, que tal começarmos a pensar em minimizar alguns esforços excedentes para que tenhamos saúde para usufruir de toda a música que investimos e sonhamos?
A primeira coisa que precisamos saber, e que mesmo depois de “sabida” nunca está na enorme lista de coisas que aprendemos primeiro, é o segredinho de que o contrabaixo não precisa de força para ser tocado…
Contrabaixo requer peso, pressão e velocidade (do arco e dos dedos).
Deixe a força para o pensamento ou para a vontade porque, essas sim, você vai precisar ter –e muito- para se manter contrabaixista.
Agora que você já sabe o pulo do elefante, vai precisar de algumas outras dicas para conseguir dar o pulo, sem se estabacar na mesmice preconceituosa de achar que no contrabaixo só sai som na marra.
Vamos lá, então…
Comecemos pela postura no instrumento:
Tanto ao tocar em pé, como ao tocar sentado, é importante ter um direção que seja responsável pela frente do seu corpo.
Por exemplo: se você vai tocar em frente a um espelho, posicione-se de forma que você fique totalmente de frente para ele, e não de ladinho, de banda, meia-bunda, etc.
Se você ainda não tem espelho, é essencial que o providencie para, no máximo, no próximo mês, nem que seja roubando um.
Enquanto isso não acontece, substitua o espelho pela estante de música, mesmo que vazia.
Conclusão inicial: se você não tiver senso de direção para saber o que é ficar de frente, como poderá controlar a mão para cima, o braço para trás, os ombros equilibrados ou mesmo uma sincronia de movimentos sem ficar todo torcido?
A partir do momento que você tem uma postura equilibrada, seus tensionamentos passam a ser conscientes, previsíveis e, portanto, mais fáceis de serem controlados.
Bem, como eu quase não toco em pé, optarei por escrever esse texto sobre a postura no contrabaixo com banco, ok?
Se você puder – e seu professor de contrabaixo e/ou a sua escola de contrabaixo permitirem-, escolha um banco de altura confortável, que o deixe com os joelhos ligeiramente flexionados e não esticados ao apoiar uma das pernas ou as duas no chão. Ao longo dos anos, seus joelhinhos agradecerão emocionados a gentileza, coisa que o seu traseiro jamais fará.
(Coisita importante: não é preciso sentar usando todo o assento do banco. Chegue um tico para frente e use 2/3 do banco. O 1/3 da parte de trás do banco deve ter sido deixado para aquela cauda que dizem que os nossos ancestrais tinham. Em homenagem a eles, não sente no lugar da cauda e aproveite a homenagem para jogar o peso do corpo para cima do contrabaixo e ter mais som.)
Se você for tocar com as duas pernas penduradas no banco, procure se sentar, não só de frente para o seu “alvo”, como também exatamente no meio do banco: uma perna fica para um lado, a outra para o outro (parece óbvio, não é?) equitativamente iguais, fazendo o desenho de um “V”. Para ter uma “confirmação” disso, é só marcar com o dedo o lugar onde o seu cóccix ficou apoiado. Se estiver no meio do banco, ótimo!
Se você for tocar com uma das pernas pendurada no banco e com a outra no chão, procure se sentar, não só de frente para o seu alvo, como também, no máximo, uns três dedinhos fora do centro do banco, procurando equilibrar o corpo como se ele estivesse sentado com as duas pernas penduradas. Assim, o desenho em “V”que as pernas fazem, fica com a perna direita alinhada ligeiramente abaixo da perna esquerda.
Para ter uma “confirmação” do local onde você se sentará, é só marcar com o dedo o lugar onde o seu cóccix ficou apoiado. Se estiver no máximo uns três dedos para a direita do centro (para a sua direita), ótimo!
Em ambas as formas de sentar, é importante se sentir equilibrado, com o peso inicial do corpo descendo em direção ao umbigo, indo para os iscos do bumbum.
Em ambas as formas de tocar, procure alinhar os pés com os joelhos, ou seja, a rótula de cada joelho fica direcionada para o meio da curva dos seus dedos do pé correspondente.
Aproveite para dar uma olhadinha em você sentado em frente ao espelho (se vira para ter um nessa hora!), fazendo pose de contrabaixista sem o contrabaixo.
Você estará de frente, com as pernas em “V”, com o peso do corpo no bumbum. Você inclinará o seu tronco um dedo para frente (o tronco todo e não só a cabeça) e, com isso, passará a sentir o peso do corpo – que antes estava só no bumbum- correr agora também para os pés que descansam no banco e/ou no chão e dividir com o bumbum o peso do corpo.
Lembre-se de manter os pés alinhados com os joelhos.
Viu só? Agora, preste atenção no restante do seu corpo. Os ombros ficam alinhados um com o outro, na mesma altura de quando você anda na rua. Você não precisa levantar os ombros para tocar um contrabaixo! Importante: nem o ombro esquerdo, nem o direito!
Procure relaxar o pescoço.
Agora que você já sabe que não pode ter crise de labirintite na hora de estudar, vamos ao contrabaixo…
Se você for tocar com uma perna pendurada no banco e com a outra no chão, o contrabaixo fica apoiado mais na perna esquerda do que na direita.
A perna esquerda é flexível. Ela não precisa ficar completamente imóvel, porque em algumas situações (notas muito agudas ou harmônicos, por exemplo) você precisará se “debruçar” mais no instrumento e abrir um pouco mais a perna esquerda para “aproximá-lo” de você.
Se você for tocar com as duas pernas penduradas no banco, o contrabaixo também fica mais apoiado na perna esquerda do que na direita, mas isso fica mais evidente quando se toca com uma perna pendurada e a outra no chão.
Gosto de usar o espigão do instrumento para a esquerda, e não na direção do meio do meu corpo. Isso me dá uma maior sensação de equilíbrio. Procuro sentir o peso do corpo como um todo. Se eu “achatar” o peso do corpo para o meio, usando o contrabaixo mais para a esquerda, o meu braço esquerdo ficará com menos peso natural.
É importante saber para onde direcionar o peso do seu corpo, levando em conta onde está o instrumento, se mais para o meio do seu corpo ou se mais para a sua esquerda.
Note também que essa diferença de posição do contrabaixo é sutil, e que direcionar o peso do corpo não é cair todo torto em cima do instrumento.
Equilíbrio e bom senso fazem parte do processo de aprendizado e procurar uma postura mais confortável e menos tensa é um investimento para um futuro com mais som e menos problemas de saúde.
Um elefante incomoda muita gente, mas não pode incomodar o contrabaixista, não é mesmo?
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