Úmido, verde escuro, com raios de luz insistentes, que procuram driblar as folhas distraídas, na verde-esperança de conseguir conversar com a terra… Cheiro de mata, de mato, de chão, de musgo, num arco-íris de aromas, que os bichos da cidade, donos de outros idiomas e linguagens, vertem para “ar puro”.
Caminho por esse bosque querendo muito estar com os pés descalços, mas o medo de insetos estranhos, e a lembrança sempre presente de quem já brincou de pique- esconde em cima de um formigueiro, me fazem achar o tênis um grande invento da “natureza”… Mas é só olhar prá cima e ver alguns pássaros, que logo esqueço dos meus pés. Eu me esqueço das coisas incômodas olhando para cima (como quando procuro pelas minhas “estrelas”) e me lembro das coisas incômodas olhando para dentro…
Vejo pequenos arbustos escondidos por entre as árvores que insistem em filtrar os raios de luz, e me dou conta de que há muito mais coisas escondidas naquele bosque…
Mais à frente e muito bem escondida, está uma pequena jabuticabeira. Penso que Eva mordeu a maçã por falta de opção. Com certeza ela não estava num bosque tropical, onde há diversas opções de frutas bem mais saborosas que a insossa maçã, e também ainda não haviam criado a culinária, prá transformar a insossinha numa torta ou num bolo de maçã. Isso talvez tivesse dado à humanidade que acredita nessa história, um toque mais quente… Até como “do amor” a maçã é uma decepção depois da primeira mordida e, cá prá nós, uma banana tornaria a historinha muito mais sugestiva e divertida…
Agora se a Eva topasse com uma torta de maçã, ela poderia convidar o Adão para comê-la com chantilly. Isso sim seria um pecado original, porque comer maçã por maçã, qualquer formiga já devia fazer antes da Eva, mas não entrou para a história porque era uma formiga… A única formiga que entrou prá história foi a da fábula, e assim mesmo porque estava acompanhada de uma cigarra que fazia barulho…
Mas voltando à jabuticabeira… caio de boca nas frutinhas sem esperar por nenhum Adão.
Quando já estou completamente empanturrada, me dou conta de que a hora passou e que… nossa, é mesmo!!
Aí você deve estar pensando: o que ela estava fazendo nesse bosque?
Eu respondo: eu tinha um encontro marcado com o lobo mau, mas perdi a hora e ainda errei de endereço: bosque não é floresta!
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