Achei na Internet esta entrevista com a grande contrabaixista
Ana Valéria Poles para o
Projeto Guri:
Especial Instrumentos: Contrabaixo
Ana Valéria Poles conversa com o Guri Santa Marcelina sobre o contrabaixo
Texto publicado no site https://www.gurisantamarcelina.org.br
O maior instrumento da família das cordas e o que tem o som mais grave. Assim pode ser definido o contrabaixo, considerado também o “alicerce” de uma orquestra, como define Ana Valéria Poles, primeiro contrabaixo da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, consultora do Guri Santa Marcelina e uma das criadoras do Octobass – grupo de contrabaixos que busca a divulgação de repertórios originais do instrumento.
Confira a seguir a entrevista com Ana Valéria e conheça um pouco mais sobre o instrumento!
Guri Santa Marcelina – Fale um pouco a respeito do contrabaixo acústico e sobre os seus ancestrais.
Ana Valéria Poles – O contrabaixo acústico é o maior instrumento da família das cordas. Numa sequência, poderíamos colocar o violino, a viola, o violoncelo e o contrabaixo. As crianças dizem que é o avô da família das cordas. Seus ancestrais vêm da família da viola da gamba, do violone e da rabeca, que são instrumentos da idade média. O violone, por exemplo, tinha seis cordas. Existia um contrabaixo de três cordas. Foi na época de Mozart e Beethoven que o contrabaixo passou a ter quatro cordas.
GSM – O contrabaixo se assemelha ao violino, à viola e ao violoncelo. Todos possuem o mesmo número de cordas, quatro. A diferença entre eles está apenas no tamanho?
AVP – O contrabaixo traz as mesmas quatro cordas do violino, mas em ordem invertida, ou seja, enquanto o violino é mi, lá, ré, sol, sendo o mi a corda mais aguda, o contrabaixo traz a sequência de sol, ré, lá, mi, com o mi sendo a corda mais grave. Seriam as primeiras quatro cordas do violão também, só que o violão tem mais duas cordas.
GSM – Qual é a função do contrabaixo em uma orquestra?
AVP – O contrabaixo é um instrumento essencialmente de orquestra. Ele é muito utilizado para fazer o acompanhamento. Costumo dizer que o contrabaixo é como as batidas do coração. Pode-se fazer uma relação também com os alicerces de uma casa. A base harmônica de um conjunto começa nos contrabaixos. A função do contrabaixo na orquestra é dar o fundamento, a base harmônica. Seria uma função equivalente a do coração no corpo humano, a do alicerce em uma casa. Sobre o seu fundamento é construído toda a casa. Todos os outros instrumentos vêm sobre o alicerce dado pelo contrabaixo.
GSM – Por ser um instrumento pesado, o contrabaixo é difícil de ser tocado?
AVP – Um contrabaixo de orquestra chega a pesar de 18 a 20 kg. Ele é do tamanho de uma pessoa adulta. No entanto, a constituição física do músico não é um fator determinante para que ele possa tocar contrabaixo, e sim a forma pela qual irá utilizar o peso do seu corpo.
GSM – Qual é a relação do seu tamanho com os sons graves?
AVP – Além do tamanho, com uma caixa de ressonância maior do que o violino, viola, violão e violoncelo, o contrabaixo possui as cordas mais grossas entre os instrumentos de sua família. Isso gera uma vibração mais lenta, e o som demora mais para ser produzido. A série harmônica fica mais grave em função disso. Quanto mais fina a corda, mais agudo é o seu som e quanto mais grossa, mais grave é o seu som.
GSM – Existe repertório escrito para contrabaixo?
AVP – O contrabaixo não é um instrumento solista. O repertório originalmente escrito para contrabaixo é pequeno e geralmente desconhecido. Considero que isso é uma falha dos próprios contrabaixistas, porque quando eles têm a oportunidade de tocar solo, fazem muitas transcrições, por exemplo, de peças de violoncelo ou de violino para contrabaixo. O repertório específico para este instrumento fica, muitas vezes, relegado ao esquecimento.
Nós, os oito contrabaixistas que formam o grupo Octobass, temos a proposta de apresentar o repertório original de contrabaixo. Temos a preocupação de não fazermos transcrições e sim trazer o repertório original para o instrumento.
GSM – Quando se usa o arco?
AVP – Usa-se o arco no repertório clássico. São dois modelos de arco: francês e alemão. Na metodologia adotada pelo Guri Santa Marcelina utilizamos o modelo alemão.
GSM – Sendo o contrabaixo um instrumento de base nas orquestras, em que ocasiões o contrabaixo pode solar?
AVP – O contrabaixo pode solar em diversas ocasiões. Existem concertos para contrabaixo solo, além de trechos solo no repertório orquestral, inclusive alguns muito famosos. Os estudantes desse instrumento devem conhecer esses trechos porque, ao se deparar com esses solos sem conhecê-los, não conseguirão executá-los facilmente, por serem de difícil aprendizado.
A dificuldade aumenta porque os contrabaixistas estão acostumados a tocar dentro da base, e quando se vêem em uma situação como protagonistas, precisam estar prontos, ou podem se perder por nervosismo ou despreparo.
GSM – Qual é a diferença entre contrabaixo vertical e horizontal / acústico e elétrico / com traço e sem traço?
AVP – Faço a distinção entre o contrabaixo acústico, vertical, e o elétrico, que pode ser horizontal, na maior parte dos casos, ou vertical. Eles são bastante diferentes. Eu, por exemplo, não me atrevo a tocar o contrabaixo elétrico.
Em relação ao traço, o acústico não possui e o elétrico pode ter ou não. Os sem traço exigem que o músico reconheça intuitivamente as posições, enquanto aqueles que contêm os traços delimitam tais posições.
GSM – Quais dicas você dá para aqueles que estão iniciando o estudo do contrabaixo?
AVP – Meu conselho para os guris é o de frequentar as aulas regularmente, evitar faltar. É preciso também estudar sempre, de preferência todos os dias, ouvir muitas coisas e estar atento. Eles precisam ser interessados por música e frequentar concertos, por exemplo, os Concertos Matinais da Sala São Paulo, com ingressos a 2 reais, ou aqueles gratuitos nos Parques Ibirapuera e Villa-Lobos, ou ainda os transmitidos pela TV Cultura.
O importante é se ocupar com o que pretende ser na vida, se for o caso da música, se dedicar a isso. Se pretende ser contrabaixista, atentar para a linha de contrabaixo nas sinfonias. Vai descobrir um mundo maravilhoso, passar a escutar a música de uma outra maneira, se começar a ouvir pelo baixo, pelo fundamento.
Em resumo, ter dedicação pessoal, foco no estudo, não faltar as aulas, prestar atenção no que o professore fala e realizar o estudo individual, fora da sala de aula, onde o aluno poderá descobrir novas possibilidades do instrumento, usar o arco corretamente, descobrir o braço do instrumento, entre outras coisas.
Ana Valéria Poles com o Octobass em uma aula-espetáculo do Guri Santa Marcelina
« Com o contrabaixo a seus pés…
Workshop sobre ritmica, de Sá Reston, no I Encontro Nacional do Fórum Contrabaixo BR »