“(…) Qual o tempo ideal para se treinar uma escala, por exemplo? (…) Como você faz para saber onde está cada nota, já que o contrabaixo é todo sem trastes? (…)” Pergunta feita por Ânderson Marcos, no meu canal do Youtube.
A escala é uma sequência de notas sucessivas, com distância pré-determinada entre cada nota – denominada intervalo e especificado em tom e semitom -, que definem uma tonalidade. Exemplo: escala de dó maior: dó- ré- mi- fá- sol- lá-si- dó.
Ela é estudada assim que o contrabaixista já tem noção de como colocar a mão esquerda e como sustentá-la nas quatro cordas, com o peso do corpo e sem o uso da força.
Para tocar uma escala em uma oitava (sequência de oito notas), sem mudar de posição, é necessário o uso de, no mínimo três cordas, com ou sem o uso de cordas soltas.
Todas as escalas “iniciais” requerem o uso da terceira corda ou da quarta corda, que são cordas mais grossas, que necessitam de mais peso do braço e da mão esquerda, ou seja, de mais tempo de contrabaixo.
Para se chegar a isso, é primordial que a notas sejam apresentadas ao pretendente a contrabaixista, que deverá passar pelos exercícios de uma a três notas, uma a uma, todas na mesma posição, lentamente e bem aos poucos, para ganhar resistência muscular e a confiança delas. Tem que chamar cada uma pelo nome e fazer cafunezinho com os dedos, senão…
Inicialmente, as notas são presas com a mão esquerda e tocadas em pizzicatto, ou seja, beliscadas com os dedos da mão direita (indicador e/ou médio).
Primeira semana: três sessões de cinco minutos – corda sol.
Segunda semana (3 x 7 minutos) – cordas sol e ré.
Terceira semana (3 x 9 minutos) – cordas sol e ré. A partir dessa semana, já é possível começar o estudo do arco, inicialmente em cordas soltas.
Quarta semana (3 x 11 minutos) – cordas sol, ré e lá. Na primeira posição, aqui já é possível fazer uma escala de dó maior até a nota si! Ufa! Se você começar a estudar pela meia posição, então já dá para fazer as escalas de lá menor harmônica e de si bemol maior completinhas!
Passe a quinta semana na companhia agradabilíssima das três cordas (3 x 13 minutos), mas nada de vuco-vuco com elas, para não se arrepender das bolhas nos dedos. Juízo.
O tempo de estudo aumenta gradativamente, assim como o tempo de cada sessão: se no início eram cinco minutos, vá aumentando dois minutinhos cada sessão, por semana. Intimidade é uma merda…
Quem já toca contrabaixo elétrico pode pular algumas etapas, fazendo uma ou duas cordas por semana. É possível iniciar o estudo do arco a partir da segunda semana, pois as posições da mão esquerda precisam ser adaptadas ao acústico antes de começar a mão direita, já que a postura é bem diferente do contrabaixo elétrico, que é um primo distante. Lembre-se que o seu compromisso é com as notas, e que parentes nessas horas só atrapalham…
O tempo “ideal” para treinar escalas depende do tipo de treinamento que você precisa fazer. Por exemplo: numa escala você pode estudar as notas, a afinação, a articulação da mão esquerda, a velocidade da mão esquerda, etc, como também pode estudar a articulação da mão direita (em pizzicato ou com o arco), a velocidade da mão direita (em pizzicato ou com o arco), os golpes de arco, etc.
Por isso, é muito difícil pré-determinar um tempo, já que o tempo está relacionado aos objetivos. Não importa se vai dar em namoro ou em casamento. O que não pode é trepar nas notas e cair fora, porque quem se estrepa é você.
Nos primórdios dos estudos contrabaixísticos, a escala servirá para conhecer as notas no braço do instrumento, para treinar a afinação das lindas e, principalmente, para aprimorar a “pontaria” para achá-las – mesmo que com a mão parada – porque, no início, as notas insistem em fugir da gente e se fazer de difíceis.
Mas o importante, quando já se tem condicionamento suficiente para tocar em três ou quatro cordas, é estudar ou tocar, no máximo, por 50 minutos seguidos e descansar, no mínimo, 10 minutos, para evitar lesões por esforço repetitivo.
Se tocar durante 50 minutos seguidos é muito, estude por 30 ou por 20 minutos e pare por 10 minutos, no mínimo. Se precisar, divida o estudo em mais de uma sessão. Nada de ficar de língua de fora na hora do bem bom com as notas, heim?
Com o tempo, aumente o número de sessões: uma, duas ou três sessões de 50 minutos (ou 30 ou 20) por dia. Aí, o intervalo de descanso pode ser maior, para que o desgaste físico seja menor.
Esse tempo também é gradativo, até que você possa chegar entre duas horas até seis ou oito horas de estudo, dependendo dos seus objetivos com o contrabaixo.
Nem todos os contrabaixistas estudarão seis ou oito horas na vida, assim como muitos não estudarão somente duas horas, mas todos deveriam nunca se esquecer de dividir o estudo em sessões intercaladas com pausas mínimas de 10 minutos.
Estudar posição por posição e escalas dentro de cada posição ou de duas posições (com ou sem corda solta) são exercícios importantíssimos para saber onde está cada nota.
Quando isso é feito de forma gradativa (1ª posição: sol maior, dó maior até a nota si; meia posição: si bemol maior, lá menor harmônica, fá maior; meia e 1ª posições: fá menor, sol bemol maior, sol menor, lá menor harmônica; 1ª e 2ª posições: dó maior, sol maior, etc.), a memorização das notas acontece naturalmente.
Com o desenvolvimento técnico do contrabaixista, as escalas também o acompanham, porém com muitos outros objetivos além de saber onde cada nota está.
Estudar dedilhados variados (por uma mesma corda, por duas cordas ou mais, etc.), em velocidades diferenciadas e/ou com articulações e/ou ritmos variados, contribui para a desenvoltura no instrumento. Os diamantes são para sempre e, provavelmente, para os outros. As escalas são para sempre, e para você!
Vale a pena perder um tempo para se adaptar às notas, à falta de trastes e às escalas, porque a vida contrabaixística não é um samba de uma nota só e, mesmo que fosse, uma mesma nota pode ser feita em alturas e/ou cordas variadas.
As notas são temperamentais e ciumentas: exigem que você tenha preparo físico, tempo disponível para elas e que pense nelas o tempo todo em que estiver tocando.
Ai de você se pensar em outra!…
E não se esqueça de mandar flores, heim?
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