Texto publicado na Revista FCBR
Tia Duda vai embora tão rápido quanto entrou, apressada e sem tempo para esperar a sobrinha terminar de fazer cocô.
A menina sai do banheiro e quase tromba com um gigante no quarto…
Ela nunca tinha visto nada igual…
Tão enorme e assustador, que ela cai de bunda no chão e só tem tempo de fugir dele de gatinhas, e o mais rápido que pode.
Esconde-se atrás da porta do seu quarto, apavorada com a ideia de que o barulho do coração denuncie seu esconderijo, e só sai de lá ao ouvir os passos da mãe que acaba de chegar.
– Ma-mãe… gigante! Gigante!
– Mamãe gigante? Que nada, minha filha… “Sou pequenininha do tamanho de um botão, carrego papai no bolso e você no coração” – brincou a mãe, enquanto pegava a pequena no colo.
Umas cantigas na voz da mãe embalam o sono sem gigantes da pequerrucha.
Gigantes não atacam crianças no colo da mãe…
No dia seguinte, a descoberta aterrorizante: a mãe saiu de novo para trabalhar, a Maria está na cozinha e o gigante continua lá naquele quarto enorme, pronto para correr atrás dela pelo apartamento!
E a vida continua seus dias, cheia de limites e medos, e o gigante medonho parado, a olhar para a menina de longe, de frente, de soslaio, com olhares de Monalisa…
No seu território, agora roubado pelo gigante, ela não ousa sequer atravessar as fronteiras daquela porta.
Mas logo logo, no meio de seus brinquedos, a menina descobre a mais corajosa boneca que uma garotinha poderia ter, a Fêfa!
Fêfa não tem medo de gigantes; já tinha lutado com muitos deles, e vencido!
E de conversa em conversa, Fêfa e a menina resolvem bolar um plano, para acabar de vez com aquele gigante que não deixa mais a menina entrar naquele quarto – que nunca fora dela, mas que era como se fosse…
A conversa é rápida e o plano, infalível: Fêfa deverá voar e cair em cima do gigante que, no chão, não poderá fazer mais nada.
E ficariam todos livres dele para sempre: a menina e seu exército de bonecas e brinquedos!
O plano é logo colocado em prática. Uma arremessada de Fêfa e tôuu… a boneca cai no chão, sem passar nem perto do gigante!…
A Fêfa agora corre risco de morte. Alguém precisa salvá-la do gigante, e rápido!
O palhaço Faniquito, apaixonado há tempos por Fêfa, se oferece para resgatá-la.
Uma arremessada, e o palhaço voador atravessa o quarto rumo ao gigante. Zuuumm… e tôuu no chão!
Ele até teve a sorte de voar mais que a Fêfa só que, como parou mais perto do gigante, agora corre mais riscos do que ela!…
E agora? Fêfa e Faniquito desmaiados no chão, e o gigante lá, parado olhando para eles e para a menina, imóvel, pronto para atacá-los!
A menina resolve pedir ajuda ao cachorrinho Pimpão, de pelúcia macia e orelhas bem peludas, que alça seu voo com as orelhas balouçantes e se estabaca bonito de focinho no chão!…
Guerra à vista!
A menina bombardeia o gigante com o pato Tibufi.
Depois é a vez do porquinho Tabule, mas nem a palhaçada da família do Faniquito, nem a patacoada do bando do Tibufi, nem a porcaria da turma do porquinho Tabule conseguem atingir o gigante, que espera pelo exército todo de brinquedos, para lutar com todos de uma só vez.
Chegou a vez do ursinho Pantufo e do seu primo Panqueca voarem para cima do gigante… e nada! Ursos não voam…
Ele é invencível sem mesmo lutar!
E todos os brinquedinhos estão agora no chão, a esperar por um resgate mais eficaz, antes que o gigante acabe com eles!
A menina pensa em chamar a Maria, mas ela não entende nada de gigantes, só de comida, e para gente pequena…
Uma cadeira para se proteger e lá avança ela em direção ao temível gigante quase destruidor de brinquedinhos!
E o gigante medonho parado, a olhar para a menina e para o exército de pelúcia, pano e borracha de longe, de frente, de soslaio, com olhares de Monalisa…
A menina atravessa com cuidado o exército de brinquedinhos nocauteados pelo voo, e aproxima a cadeira do gigante, que só espera pelo momento certo para dar o bote em todos…
Ela então vê uma arma perto dele. Será uma espada? Serve de espada!
A menina sobe na cadeira, pega o contrabaixo pelo pescoço e tenta cortar a barriga dele com a espada.
E ele grita um som esquisito. Um gigante que fala com voz de criança e de adulto!…
A mãe chega para o almoço, e se depara com a cena insólita: todos os brinquedos da casa no chão do quarto, e a menina sentada numa cadeira, cantando e conversando com o contrabaixo…
– Saia já daí e largue agora o contrabaixo da sua tia Duda, Leonarda!
– Tô conversando com o gigante, mamãe! Ele é meu amigo! O nome dele é Ludovico!…
– Ai-ai… Tal tia, tal sobrinha. Mais uma na família que conversa com instrumentos!…
Segredos Contrabaixísticos de Duda Pum-Pum-Pum Ronc-Ronc by Voila Marques is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas License.